quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Craque Brasileiro

Como um péssimo patriota brasileiro eu nunca gostei de futebol. Nunca joguei bem e sinceramente acredito que esses dois fatores estejam relacionados em um clico vicioso. Eu nunca gostei porque sempre joguei mal e sempre joguei mal porque nunca gostei. Não faço idéia de qual fator veio primeiro e por isso não sei se sou escravo ou senhor do meu anti-patriotismo. Apesar de toda a tormenta que o futebol possa ter causado em minha vida houve um dia em que surgiu uma luz no fim do túnel. Desde então, para minha felicidade, eu não precisei mais dar o meu suor por aquele jogo de bola e o mais estranho de tudo é que a solução estava no próprio esporte.

Eu explico: o ópio do povo nunca se manteve distante das aulas de educação física e por isso toda semana eu era obrigado a participar de algumas partidas. No início fui coagido pela minha consciência e o temor das autoridades, mas com o tempo aprendi que tudo que é forçado e se torna desgastante acaba sendo burlado. Foi o que fiz, tentei boicotar o regimento interno do futebol.

Minha primeira atitude, como um aluno diligente foi conversar com o professor, mesmo que eu não soubesse dar o recado em uma única fala:

- Professor, olha só...hoje eu não vou fazer aula não. Tenho consulta no médico.

Na semana seguinte:

- Professor, meu pé tá doendo. Não consigo jogar assim.

Mais uma semana:

- Professor, estou com dor de cabeça.

Até que uma semana o que eu temia aconteceu. Conversava eu no banco com outros reservas quando fui chamado e me tornei vítima do seguinte diálogo:

- O que tá acontecendo? Você não gosta de futebol?

- Não.

- É, percebi. Mas sabe o que acontece? Se você ficar arrumando uma desculpa toda aula pra não jogar a diretoria vai reclamar comigo. Você não pode ficar arrumando uma desculpa nova porque pega mal pro meu lado.

- Entendi. – e continuei de maneira enfática - Mas eu realmente não quero jogar.

- Tudo bem. Vamos fazer o seguinte...tá vendo aquele garoto ali?

- O Peru?

- É esse o apelido dele?

Fiz cara de quem não daria mais explicações e que lamentava pelo outro aluno.

- Vamos fazer uma aposta: se ele fizer um gol na partida você nunca mais precisa fazer educação física. Você vem e vou te deixar no seu canto lá sentado conversando com o pessoal do atestado médico pra não fazer aula. Agora se não tiver gol, você vai precisar fazer aula sempre e jogando todas as partidas.

Parei para analisar. Devo ter demorado um segundo para responder. A linha de raciocínio que ocupou minha mente durante esse um segundo foi bem simples. O Peru devia jogar muito mal para o professor fazer uma aposta daquelas. No entanto por pior que ele fosse eu ainda tinha alguma chance de ganhar. Não era como se eu fosse o jogador em campo, porque se fosse o caso, certamente não apostaria em mim mesmo. Se perdesse a aposta eu deveria praticar as aulas toda semana sem falta. Em teoria naturalmente, porque eu ainda poderia faltar mais vezes e certamente continuaria burlando o sistema. Por outro lado se eu ganhasse a aposta eu não precisaria mais me preocupar em driblar a freqüência da aula e poderia descansar e receber presença ao mesmo tempo. Em suma, não tinha nada a perder.

- Tudo bem, vamos apostar.

Não sei quantas copas do mundo eu já assisti e apoiei o Brasil, mas durante todo o meu tempo de pseudo-patriota eu nunca me senti tão emocionado como naquele jogo. O destino (literalmente) em jogo soava muito mais importante e mal sabia Peru que naquele momento era a minha esperança.

Mesmo sem jogar, o suor desceu pela minha testa quando eu via que nada acontecia entre Peru e o gol. Eles não pareciam se dar bem e até aquele momento nenhum chute a gol.

A depressão monótona foi quebrada quando nos últimos minutos, por uma falha do outro time, Peru dominou a bola e realizou o que tanto ele e eu desejávamos. Não fez sentido algum para qualquer um dos jogadores ver um louco no banco de reservas comemorando um gol tão patético de uma pelada de colégio. Não importava para mim, pois agora estava livre dos grilhões da arte nacional. Por mais que eu nunca tenha verbalizado o meu agradecimento ao Peru, sei que graças a ele o futebol foi usado como instrumento para me afastar ainda mais do próprio esporte. Graças ele, posso dizer que pelo menos durante alguns minutos, eu fui brasileiro.

sábado, 29 de julho de 2006

Tudo Bem?

Enquanto assistia a sessão da tarde na televisão uma senhora por volta de seus sessenta anos é surpreendida por uma mensagem de plantão.

“Caros telespectadores, interrompemos o filme ‘Um Morto muito Louco 4’ para informar que meteoros estão vindo em direção à terra e vão colidir em apenas alguns minutos resultando no fim do mundo. Alguns abrigos já estão sendo organizados por toda a cidade, mas sinceramente achamos que de nada irá adiantar. Recomendamos que todas as pessoas aproveitem seus últimos minutos com calma e sem entrar em pânico.Obrigado.”

Logo após o aviso Andréia se levanta e vai à janela. Em questão de segundos o que parecia uma bola de gude vermelha cresceu e explodiu a algumas quadras. Fogo e caos começaram a se espalhar pela cidade e enquanto vários tremores afetavam a terra a senhora correu. Agarrou um pequeno livro de telefones e procurou um número. Logo em seguida discou discou rapidamente.

O telefone toca uma vez. Outra vez. Três. Hesitantemente a mulher vai colocando o telefone no gancho quando ouve uma voz. Coloca o receptor no ouvido:

-Alô? Alô? ALÔ? – uma voz ofegante e estridente

-Dolores?

-Quem é? – sons de explosões e gritos podem ser ouvidos ao fundo

-Sou eu Andréia. Tudo bem?

-Andréia...?

-Andréia da faculdade.

-Déiazinha! Reconheci sua voz agora. Como você ta?

-Ah eu to ótima e você amiga?

-Melhor não poderia estar. Meu casamento ta ótimo, eu moro com o homem que eu amo e meus filhos são lindos. E você?

-Eu estou be – de repente do outro lado da linha criança grita: “Mãe! Vamos sair daqui! Ta tudo pegando fogo! Mãããããããe” “Cala boca muleque, não vê que eu to falando no telefone?” O som da linha fica mais abafado, mas ainda é possível ouvir. “Arnaldo para de beber cerveja e pega o garoto chorão aqui! EU TO NO TELEFONE!” os gritos soam em um tom completamente histérico e estressado.

-Dolores?

-Oi Dédé meu amor, desculpa pela demora, o cachorro tava latindo aqui e eu tive que soltar ele do canil.

-Ah tudo bem. Eu só estava dizendo que comigo está tu-

-Mas você me ligou por que mesmo? Eu sei que a nossa amizade permanece firme como sempre, mas eu queria saber se você ta precisando de algo.

-Na verdade estou. Eu tava ligando pra te pedir de volta aquele brilhante de diamante que eu te emprestei pra ir na festa da empresa do seu marido.

-Qual?

-Aquele do coração em forma de diamante, com os detalhes folheados a ouro.

De repente em explosão ecoa do lado da linha de Andréia.

-Dédé? Que isso?

-Ah foi nada, a empregada derrubou a geladeira – Andréia observa o estrago do meteoro que caiu na sua rua pela janela. Janelas estraçalhadas, pessoas gritando e muito fogo.

-Eu acho que posso te devolver esse brilhante. Mas pode ser semana que vem?

-Olha não fica triste, mas é que eu queria esse brilhante agora. Ele era da minha mãe e significa muito pra mim.

-Pede um pro seu marido, ele é rico e pode te dar um muito mais bonito.

-Você sabe que eu sou viúva Dolores. – um tom sério permeia a ligação.

-Ah foi uma brincadeira. Então você quer ele hoje, né? Eu vou falar pro meu marido passar ai depois do trabalho. – “Num vem com papo pra cima de minha não Dolores! Você sabe que eu to desempregado!” “CALA BOCA REX! ”

-Desculpa, é o cachorro que ta com fome aqui.

-Então hoje ele deixa aqui? –Andréia testa a mentira de Dolores.

-Isso mesmo...lá pelas dezoito horas ele deve passar ai.

-Tudo b-

-Mas foi ótimo ouvir de você Dédé. Estou feliz que esteja tudo ótimo com você. Vamos sair um dia desses amiga.

Um estranho barulho de ligação chiada começa a surgir e cada vez ficando mais forte.

-Dolores? Dolores? Você não sabe meu endereço.

Os bipes de ligação cortada ecoam pela linha.

Andréia calmamente pega uma caneta vermelha e risca o nome de Dolores de uma lista de vários outros nomes já riscados.

-Nunca gostei daquela vaca.

sábado, 22 de julho de 2006

Artigo 55 Inciso III

- Manhêêêê! – podia se ouvir a ladainha manhosa do garoto ecoando pelos quatro cantos da casa. A mãe, no entanto, já acostumada apenas gritou de volta enquanto fritava ovos para o café manhã:

- Que foi Ricardo? Se arrume logo porque eu já estou fritando seu ovo!

- Manhêêêê! – o mesmo som se repetiu como se o comentário da mãe tivesse sido em vão. De maneira irritada uma voz autoritária e feminina se fez ser ouvida em resposta à indisciplina do filho:

- Eu não quero saber Ricardo! Deixa de birra e levanta! Bota a roupa e vem comer seu café da manhã agora! Eu não quero ir até ai te buscar, mas se eu tiver...

Cerca de um minuto depois o garoto já estava todo arrumado e sentado na mesa esperando o seu prato com torradas, ovo e suco de laranja ser servido.

- Você tinha algo para me falar ou aqueles seus gritos eram só preguiça? – os olhos belos, porém decididos da mãe podiam colocar qualquer pessoa para falar a verdade.

O garoto não sabia se comia ou respondia então decidiu responder de boca cheia:

- Ah...é que eu não – e foi interrompido.

- Não fala de boca cheia. Mastiga, engole e depois fala. – e por alguns segundos houve silêncio apenas para ser interrompido pelo som de Ricardo engolindo a comida.

- Mãe, eu não quero ir pra escola.

- De novo essa história Ricardo?

- Não mãe. É que a escola é realmente muito chata. Eu não gosto de acordar cedo todo dia pra chegar na aula e ficar ouvindo a professora falar por horas. É muito chato.

- Olha só filhinho, eu sei que é chato. Eu nunca gostei de escola também. Só que não tem jeito, você precisa ir. Com certeza tem algumas coisas boas lá. Você não se diverte com seus amigos?

Ele fez um gesto de concordância.

- Então. Vai pra escola e aproveita pra se divertir na hora do recreio.

- Não. Só na hora do recreio? Eu prefiro ficar em casa.

- Mas Ricardo eu já deixei você faltar outras vezes. Você sabe que eu até deixaria você faltar mais, mas agora você corre risco de repetir por falta.

- Só na escola que tem essa coisa ridícula de presença. Eu queria ser adulto.

- Isso não é verdade. Você sabia que até os políticos tem que responder presença?

- Que mentira.

- Mentira nada Ricardo. Eu posso te mostrar na constituição. É o artigo... – antes que ela pudesse terminar foi interrompida.

- Mas quando você é adulto você faz o que gosta. Se eu gostasse de ir pra escola eu não me importaria em responder a lista de presença. Você não gosta do seu trabalho?

- Gosto. – um breve silêncio permeou a sala e o próprio raciocínio da mãe.

- Então. Se os políticos podem repetir por falta é porque o trabalho deles deve ser chato que nem a escola.

A mãe sem palavras permaneceu assim, olhando para a mesa e pensando em uma resposta.

Já tendo desistido de convencer o filho, a mãe disse:

- Tudo bem. Fica em casa hoje.

O filho comemorou discretamente e começou a levar seu prato para a pia da cozinha enquanto a mãe se levanta para ir embora.

Já na porta a mãe virou e disse:

- Beijo Ricardo! Agora, promete uma coisa pra mamãe: quando você for adulto faça algo que você goste.

O filho sorriu de volta e desejou um bom dia para a mãe.

quinta-feira, 13 de julho de 2006

O Baile de Máscaras

Como ela era linda. Aquele corpo escultural estendido na cama ao meu lado simplesmente significava que ao longo do tempo soubemos lidar um com outro para ao final nos encontrarmos completamente desmascarados. Exatamente como somos, sem nenhum escudo, como quando nascemos. Atingimos o ápice da sinceridade e nada poderia nos tirar essa vitória, por difícil que ela tenha sido. Nos tornamos livres, exatamente como sempre devia-

- Bom dia amor. – a voz dela interrompeu meu monólogo mental.

- Bom dia.

- Ficou me olhando enquanto eu dormia, é?

- Não resisti. – Aproveitei para brincar, nada melhor que começar o dia em um bom humor.

- Que lindo. Você sabe que eu te amo, né?

- Eu também te amo.

- Não, eu amo mais. Eu faria de tudo para estar com você. – Realmente nesses últimos meses eu nunca havia sido entulhado com tantos presentes e afeto. Tive a impressão que nunca conseguiria tirar aquela imagem meiga da minha mente.

- Lindinha, ta ficando tarde. Vamos levantar?

- Ah não. Fica só mais um pouquinho comigo vai.

Após algum tempo nos começamos a arrumar e até esse ponto nada de diferente havia ocorrido. Até o café da manhã:

- Amor, passa a manteiga por favor. Obrigada. Olha só, hoje vou te chamar pra minha sala durante o dia, mas não se espanta não, ta? Não vai ser nada demais.

- Sei. – Não agüentei e ri um pouco. – Na última vez que você fez isso a gente tentou disfarçar, mas até agora não sabemos se nos ouviram. Melhor nem arriscar dessa vez. Aqui a gente tem mais paz.

- Não precisa lembrar. Tenho a impressão que estão me olhando estranho agora.

- Ah! Que isso. Ai já é coisa da sua imaginação. Qual problema em você rir quando vai pra sala da chefe?

- Deixa pra lá. Só num toma susto hoje quando eu te chamar.

- Tudo bem. Vamos então?

- Pode ir na frente, eu vou chegar um pouco depois hoje porque ainda tenho que arrumar minha mala.

- Que desculpa. Eu espero então.

- Não. Vai na frente, não quero que você chegue atrasado.

- Você vai demorar tanto assim?

Ela me beijou e se despediu novamente para depois entrar no banheiro. Não tive paciência para discutir. Estranho porque semana passada ela disse que iria junto comigo, acabou me seguindo no carro dela e por motivo nenhum parou e em um sinal aberto. O caos no trânsito começou a ficar tão grande que eu decidi seguir em frente. Era quase como se ela não quisesse chegar junto comigo no trabalho.

A rotina seguiu normalmente a partir daí. No escritório, vulgo o famoso baile das máscaras, encontrei Carlos grande amigo meu de trabalho contando uma história para os novos estagiários.

- Vocês precisavam ver a cara de desespero do garoto quando eu reclamei que ele havia esquecido de organizar os arquivos em ordem cronológica. Ele começou a chorar e pedir desculpa. Nessa hora eu pensei, “esse garoto não sabe trabalhar e não presta” e esse foi o nosso último estagiário aqui.

Sem dúvida o rosto aterrorizado dos novos recrutas era impagável, mas ninguém sabia que ele havia tomado uma bronca também inesquecível do seu superior e que a história do estagiário era toda balela. Dei apenas dois tapas amigáveis nas costas dele e segui para meu cubículo.

No caminho encontrei com a adorável Edna. Provavelmente umas das funcionárias mais antigas na empresa e também em faixa etária, pois devia beirar seus 70 anos. Nunca entendi como ela não havia sido demitida porque desde que ela se divorciou do marido e perdeu uma boa quantia de dinheiro passou a atender muito mal pelo telefone. Era praticamente uma ironia colocá-la como funcionária do SAC e não era a toa que poucas reclamações passassem por ela e chegassem até alguém superior. Estranhamente fora do telefone era um amor de pessoa e sempre disposta, desde que ficasse evidente que de alguma forma ela era superior a você.

Uma breve troca de “bom dias” me fez caminhar em frente já que ela parecia ocupada ao inventar mentiras para o cliente falando que o sistema estava fora do ar e aumentando o prazo padrão para a entrega de documentos. Aquela clássica ladainha que é engraçada para quem está desse lado da linha e um inferno para quem está no outro.

Chegando ao meu pequeno recinto coloquei a pasta na mesa e comecei a trabalhar. Algum tempo depois com dois copos de café apareceu Tiago.

- E ai garanhão. Aceita um café?

Ri levemente peguei o café da mão dele e perguntei sorrindo:

- Come que é?

- Você sabe pô. Num me vem com essa cara de inocente. Todo mundo viu você saindo com um sorriso da sala da chefe.

- Que isso cara. Ela contou uma piada e eu ri. É proibido sorrir agora dentro do escritório, é? Ela só é minha amiga, fica tranqüilo. Sem essa de rosto inocente porque o meu apelido não é Santinho.

- Eita. Pegou pesado agora. – O apelido do Tiago era Santinho, afinal ele tinha uma tremenda cara de santinho mesmo. Poucos na verdade sabiam a pessoa tarada que era. Em ocasiões já cheguei a vê-lo com inúmeras mulheres em uma mesma noite. No entanto no escritório ele vivia uma outra personalidade chamada Santinho. Não é que fosse o capeta, mas escondia algo por trás daquela meiga face. No entanto enquanto costumava esconder o que fazia eu costumava divulgar. – Então quer dizer que num ta rolando nada com ela?

- Ela é minha amiga. Só isso. – Mas toda regra tem sua exceção. Eu disse “costumava”.

- Tudo bem. Eu acredito. Me diz uma coisa, o almoço ta de pé?

- Claro. Então até lá.

O trabalho teria seguido normalmente pelo resto da manhã se não fosse por uma esperada interrupção. O telefone tocou e era o meu convite para sala da chefe.

Era engraçado como eu podia sentir os cubículos me acompanhando com seus olhos enquanto eu caminhava corredor a baixo. Geralmente isso seria um momento de glória para mim, mas circunstâncias atuais me faziam colocar a máscara de garanhão de lado e reconhecer que não era proveitoso nesse caso. Nem sempre a fama exagerada dos meus feitos me colocaria em uma posição favorável e essa era uma dessas situações.

- Feche a porta por favor senhor.

Eu apenas sorri com a brincadeira dela e fechei a porta.

- Veja só meu estimado empregado. Apenas lhe chamei aqui para exigir um tratamento mais respeitoso da sua parte. De agora em diante meu nome não basta e nem mesmo me chame pelo clássico apelido de “chefe”. Coloque sempre o “doutora” antes de meu nome e preferivelmente use Souza, meu sobrenome.

Meu rosto perplexo e atônito descrevia exatamente como eu me sentia. Eu estava desmascarado e despreparado para aquele momento.

- Tens algo a dizer senhor?

Consegui balbuciar uma frase com dificuldade:

- Mas ninguém te chama assim aqui e você não perde respeito por isso.

- Pois então farei com que todos tenham certeza que eu não perderei meu respeito. Pode ir agora.

Não estava em condições de argumentar ou insistir. Foi um golpe baixo.

Sai da sala cabisbaixo e desanimado. Ela ouviria a minha bronca mais tarde, mas por hora, em prol da relação, eu seguiria com o plano mascarado dela.

No caminho de volta para meu antro labutário ouvi alguns colegas falando:

- Olha só. Ta vendo ele ali. Aquele tomou bronca da chefe. Deve ter feito alguma besteira e todo mundo sabe que com ela não se brinca. Ela é tão séria que ninguém a desrespeita. Praticamente exala autoridade e em casa deve ser uma fera.

O outro colega havia me visto e complementou:

- Pode ser, mas eu acho que esse ai é o adestrador da fera.

- Que nada. Ele pode arrumar muita mulher por ai, mas essa eu duvido. Só um mestre poderia estar com a chefe.

Pensei em Carlos, Edna e Tiago. Pensei na Doutora Souza. Pensei em mim. O sangue subiu à cabeça, coloquei minha máscara e dei meia volta.

- Opa. Vocês estão falando de mim, é? Deixe-me contar uma história pra vocês.

domingo, 2 de julho de 2006

Um Olhar Retrospectivo

Não é difícil reconhecer momentos únicos em nossas vidas. Certamente muitos deles passam em vão, ao menos ao momento em que os vivemos, mas se pararmos e revisarmos nosso passado entenderemos quem somos e onde que sofremos guinadas essenciais para nossa formação.

O passado é usado em inúmeros aspectos e por inúmeros motivos. Seja na história mundial, nacional ou em uma agenda que você usou para ver o que realizou na quinta-feira passada. Nossas ações seguem um caminho e por mais que seja difícil acreditar somos previsíveis. Podemos tentar inovar ao máximo, mas é certo que em algum momento, independente do conteúdo original da criação, o ato de constante inovar será compreendido como algo previsível. O que confirma essa previsibilidade é o passado. Não é possível deduzir se uma pessoa repete atos ou não ao passo que não sabemos o que ocorreu anteriormente. Portanto é da mesma forma que não temos como entender a lógica do trajeto de alguém se não o estudarmos por experiências passadas. Prever o futuro de maneira exata acaba sendo um ato sobrenatural, mas pela razão e lógica do estudo da história é possível determinar alguma previsibilidade no que está para ocorrer.

O intuito principal desses parágrafos é mostrar o quão o passado é importante. Basta apenas pensar em um momento saudosista. O simples fato de você não estar indiferente significa que de alguma forma o seu passado pesa para você. Às vezes um pesar tão grande que não conseguimos nos desprender. Logo há aqueles que dizem que somos peças apenas de um jogo chamado “destino” e eu, no entanto, me posiciono de maneira contrária. A diversidade de pessoas e trajetos que existem atualmente não deve ser ignorada e acredito que sejam mais que o suficiente para revelar que somos capazes de tomar decisões (mesmo que as opções sejam escassas). Nossas experiências passadas são capazes de nos indicar o percurso a ser seguido como também nossa mente tem a capacidade de aceitar esse percurso ou não.

Apesar de opinar não acredito que tenha solucionado essa questão e sinceramente tenho minhas dúvidas se de fato há. Pretendo apenas expor uma visão retrospectiva e mostrar que coloco grande importância no que já passou. Seja para repetir experiências passadas ou não. O reconhecimento do passado e a vivência dele são métodos usados na vida cotidiana e na própria arte (afinal a “arte imita a vida”). As mais variadas (his e es)tórias narram a formação de personagens ao longo do tempo, sejam eles guerreiros, reis ou até mesmo países. Não é essa a essência do passado? Não é esse o cerne da vida?

quinta-feira, 22 de junho de 2006

Passos Perdidos

Não sei o que dizer
Nem por onde começar
Sou uma mente vazia
Que se esforça para não estar

Uma fábrica abandonada
Entregue ao acaso
Um lar despedaçado
Sem pessoas ou laço

O ambiente deserto luta
Busca se reestabelecer
Busca ser o oasis que era
E a fonte divina para beber

Por mais que eu busque
E tente mudar
A minha raiz sempre irá me segurar

Devo me eliminar pela origem
ou torturar minha casca?
Almejar quem não sou
e ser produto da mistura?
Ou curtir sem dó a luxúria?

Para tanta balela
e tanta curiosidade
Apenas me atenho em revelar
Os mistérios da cidade

Porque o corpo humano
é complexo e confuso
Lidar com a mente portanto
E tentar entende-lá
Apenas me faria entrar em parafuso

quarta-feira, 7 de junho de 2006

O Manual

Um senhor meio barrigudo por volta de seus 60 anos assiste ao noticiário na tevê. Nos intervalos comerciais ele aproveita a oportunidade para esticar seu braço para fora do sofá e pegar mais um copo cheio de suco de uva. Na distância é possível ouvir algumas vozes femininas acompanhada de uma infantil.

-Vai lá com seu avô. A gente vai prepara alguma coisa pra vocês comerem. Que tal um bolo de chocolate?

Passos leves, mas rápidos podem ser ouvidos ao se aproximarem da sala de estar e de repente pequenos braços envolvem o grosso pescoço da figura amada do jovem.

-Vitor! Como vai? Senta ai e assiste ao jornal comigo.

-Você pode assistir vovô, mas eu vou brincar. – o garoto sorridente exibe uma embalagem com um brinquedo de montar novinho dentro.

-Brinquedo novo, é? – o senhor com cabelos grisalhos sorri – Tudo bem. Então senta ai perto de mim.

Enquanto "flashes" sensacionalistas de desgraças misturadas a propagandas manipulativas e cenas eufemisticas de jogadores de futebol eram exibidas para os olhos do avô, Vitor calmamente montava sua mais nova estação de bombeiros. As peças eram variadas em cor e tamanho, mas todas elas tinham sua função na hora de montar as paredes, o chão, o telhado e o carro de bombeiro. Em meio a um intenso raciocínio e concentração o garoto é interrompido por um resmungar do avô.

-Que foi vô? – o garoto intuitivamente pergunta ao ouvir o grunhido de insatisfação.

-Olha isso. Há anos que eu vejo já essa mesma cerveja sendo exibida por uma mulher bonita da mesma forma e há anos que também só vejo desgraça. Nada muda.

O garoto sem muito entender da de ombros e volta para sua complexa construção. No entanto após algum tempo ele se depara não com uma estação de bombeiros, mas uma figura estranha e disforme de um amontoado de peças coloridas.

-Vôôô – o garoto chama pela figura poderosa no sofá – Cadê minha casa de bombeiro? Isso aqui tá estranho.

O homem olha sorridente e segura o riso quando vê uma torre semelhante a um arco íris de tijolos. Para ele a construção mais parece com uma pilha de ferro velho atacado por pintores modernos e loucos com latas de tinta variadas.

-Vitor...você leu o manual?

-Ih...é esse livrinho aqui?

-É. Olha, ninguém nasce sabendo. Se você quiser montar sua estação igual à figura da caixa, você vai ter que ler esse manual e seguir os passos. Pode ser chato, mas não é difícil e você vai ver que vai ficar igual no final.

-É...acho que esqueci de ler o manual.

O avô sorri levemente e volta a assistir ao último bloco do programa de fofoca jornalística. De repente, em vez de finalizar com os gols de algum amistoso irrelevante para o convívio social, a voz do apresentador ecoa pela sala:

"Escândalo de corrupção é revelado no congresso nacional e no poder executivo. Ligações são feitas desde o presidente da república até um deputado federal. Informações confirmam que desde meados do ano passado deputados vem recebendo uma quantia pecuniária generosa para servir os interesses das forças contratantes através de votos formais. O número de envolvidos ainda não é confirmado, mas conforme ele cresce o número de supostos artigos constitucionais violados também faz o mesmo. O nosso tele-jornal voltará brevemente após o intervalo com mais notícias de plantão."

O silêncio permeia a sala. Enquanto o senhor exala raiva através de sua respiração a criança transparece confusão e perplexidade. Ela decide falar:

-Vô. O que esses homens fizeram foi errado, né? – a criança tenta entender a situação melhor ao tirar sua dúvida.

-Claro. Eles fizeram muita coisa errada. Foram contra a constituição inclusive.

-Por quê?

-Acho que eles esqueceram de ler o manual.

-Nada muda, né? – a criança ainda confusa tenta entender.

-Nada.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Uma Oferta Irrecusável

Sinceramente acredito que deve ser impossível me desligar dEla. Me sinto impelido, atado e acorrentado, como se não houvesse solução. Uma sensação brota algumas vezes me deixando mal como se eu carregasse um uma indigestão dentro do meu coração. Um coração tumultado e desesperado para pulsar, mas que aos poucos está se tornando uma pedra pesada. Em outras vezes posso senti-La fazendo meus sangue pulsar com vida pelo meu corpo. Sinto o calor de um sentimento e a agitação de um vida com sentido. Sem dúvida Ela é temperamental. Sem dúvida ela se deixa levar pelo que vemos na nossa realidade em um ato de reação, acredito eu, e me faz instrumento vivo de suas opiniões.

É verdade que como consequëncia posso parecer um louco com surtos emocionais, especialmente se eu me deixar ser dominado. No entanto é verdade que todos passam pela mesma situação, assim creio, e portanto me sinto um pouco aliviado pois posso procurar conselhos. Pude perceber no convívio cotidiano que muitas vezes aqueles tidos como fortes e perseverantes são os que não são afetados pela balança instável criada por Ela. Aqueles que não se deixam levar por meros sentimentos e sabem mediar corretamente o peso entre a razão e emoção. Eles são inabaláveis. São?

Não consigo e acredito que nunca conseguirei traçar uma linha separadando o certo do errado nessa questão. Os facilmente abalados são os fracos e as pedras são o símbolo da vitória? Discordo e concordo. Cada momento com a sua resposta, mas nunca um gabarito. Já sofri, sofro e sofrerei por sua causa. Já sorri, sorrio e sorrirei por sua causa. Sou uma moeda que resolve conflitos quando cai com uma face a mostra, mas o que me faz girar em meu próprio eixo? Sem dúvida: Ela. Me motivando cada dia, me maltratando cada dia e me formando cada dia. Sou moladado em sua forma quando desejo e resisto bravamente suas tentativas de me esculpir quando consigo.

As vezes a medusa que me torna em pedra e outras vezes a poesia que me faz deixar de valorizar a lógica exata. Seja no tormento, seja na alegria, sei que estamos casados e o único divórcio que existe é a morte. Portanto nessa relação escultural a salvação é o caminha do aprendizado, pois eu sei que nunca A deixarei. Eu sou Ela e Ela me completa. Sou a metalinguagem de minha Alma e sei que ficaremos juntos até o fim...nos ignorando, ou não.

sábado, 27 de maio de 2006

A Moeda Humana

Serei direto e fluido. Serei (des)organizado como a minha mente. Serei humano. Você possue meus votos sinceros de felicidade. Se ainda não percebeu, creio que essa será a função desse conjunto de palavras. Perceba que sou humano e como sou humano sou imperfeito. Uma moeda de duas faces. Uma boa e a outra ruim. No entanto como humano sei que enquanto eu viver essa moeda continuará girando em seu eixo, hora mostrando sua cara e hora sua coroa.
Necessito dizer que embora a minha face possa transparecer negativamente, como a cara, e até mesmo realizar atitudes indesejadas, busco ao longo de minha vida controlar o giro e apresentar a coroa sempre que possível. Como humano tenho duas faces e como moeda nem sempre mostro o lado que quero.

Portanto quero deixar bem claro que apesar de todas as minhas "caras" ainda possuo "coroas". Que esse texto sirva como representação da minha coroa e que você entenda que minha cara apenas é revelada porque sou humano. Intenção? Não. Não tive essa intenção e é por isso que estou aqui.

Me apresento humildemente como uma moeda de ouro, com falhas naturalmente, mas um valor intrínseco para com você. Entenda o meu desejo dourado para com a sua felicidade e entenda que a amizade possui faces também, embora não precisem ser de ouro para serem eternas. Expresso minha fragilidade e minha sinceridade, me prosto como amigo, como humano e como moeda. Mostro as claras meu rosto de caras e coroas.

Você tem minha amizade, apesar de minah dupla face, mas não se deixe enganar, pois lhe desejo felicidades.

domingo, 21 de maio de 2006

A Vitória de Vagar

Eu tinha um texto em mente, mas mudei subitamente para um novo conteúdo. A mudança se baseia na mente humana, especialmente a minha. Como a frase "o povo tem memória curta" costuma ser freqüentemente repetida decidi me sentir advertido e relatar aqui meus sentimentos e memórias antes que eles pudessem migrar para a parte inativa do meu cérebro. Sinceramente não sei se possuo um grande arquivo mental, mas se o possuo, uso pouco, e para não me tornar dependente a esse ponto termino aqui nessas letras.

Sentimentos sem dúvida são os guias da grande maioria textos que escrevo. Independente do assunto faço nada mais que uma terapia pessoal exposta em termos criptografados, para quem não está ciente da situação abordada. Por incrível que pareça, isso funciona e torna a alma muito mais leve, porque tudo que podia parecer atordoar fica no papel misturado à tinta e a caligrafia. Despejar sentimentos negativos com palavras é uma solução para se livrar deles, mas e sentimentos bons? Quando estamos felizes, como fazemos para que aquele sentimento leve e gerador de sorrisos permaneça conosco?

Por esse motivo estou aqui digitando. Mais uma vez sem propor verdade última alguma, mas apenas vagando através de uma postura zetética indutiva. Minha intenção é debater sobre o incerto e através da escrita tentar, mesmo que não seja a solução definitiva, e estocar minha felicidade em termos e frases. Pensar em guardar para um dia em que eu possa revisitar a sensação, já significa me dou conta de que ela irá se esvair independentemente. A memória do povo é curta e a minha também, mas as palavras permanecem.

Espero, portanto que meu intento seja consolidado, sinceramente espero poder re-sentir uma risada de bom grado. Pergunto então como chegamos ao ponto de perder a "felicidade", já que estou me preocupando em guardá-la. Tomo atitudes e corro contra o tempo como se sorrisos já nascem com prazo de validade. O motivo para o término me é incerto e apesar de eu poder formular teorias esse não seria o objetivo. Por hora apenas me indago o fundamento e a finalidade dessa minha escrita. É raro relatar um momento feliz, mas se é, porquê? Porque não costumo e porque tomei essa atitude?

Um labirinto confuso e um tanto prolixo que me deixa apenas mais questionador e sem respostas. Sei que as minhas perguntas podem nunca achar uma resposta, mas pretendo chegar ao minotauro antes que ele chegue a mim. Resta-me apenas indagar as questões e procurar fervorosamente pela resposta, mas não deixar de sentir a leveza de um sorriso espontâneo ou a dor de uma risada na barriga. Busco principalmente relatar o calor de uma nota musical sublime que me faz sentir bem. Que me faz sentir como se tivesse acabado de descobrir o sentido da vida e como se nunca mais fosse me preocupar com qualquer rumo que tivesse que adotar. Uma sensação de confirmação que estamos no caminho certo e satisfação como um sentimento que transmite o desejo de se perpetuar por toda a eternidade. Como se não houvesse violência, como não houvesse crises pessoais, profissionais e familiares. Como se essa cidade realmente fosse maravilhosa. Como se não vivêssemos em uma realidade desigual. Me sinto feliz.

Uma imagem codificada que revela de maneira figurada a simples carreira de uma mente gladiadora presa em um labirinto da arena. Uma mente indagadora sedenta por respostas. Uma mente que almeja ser feliz e finca no solo uma bandeira ostentando a sua vitória, sabendo que mesmo que ela não volte a ser, um dia já foi.
Vago felizmente porque felizmente vago. Sei que esse não é o fim.

terça-feira, 16 de maio de 2006

Conflito...

Não há forma melhor de iniciar introdução desse "blog" a não ser me posicionar contra o espaço vazio, portanto...

Litígio, duelo, confronto, colisão ou conflito; como preferir, não faz tanta diferença assim. Apesar de não necessariamente serem sinônimos diretos, essas palavras estão ligadas a uma mesma relação semântica de "adversidade". Entendo como uma lei fundamental para o embasamento dos conflitos a terceira lei de Newton, afinal realmente nada mais lógico que uma ação inicial e uma reação, ou seja, a essência de um conflito.


Nossos dias são repletos de conflitos, em todos os sentidos possíveis e imagináveis. Seja contra sua própria essência psicológica ou contra os segundos que marcam cada um dos seus passos, sejam eles sincronizados ou não. Desde o momento em que você levanta da cama e pensa "Que sono, queria dormir mais. Que horas são?" até quando você fica na dúvida se come pão com requeijão ou ovo no café da manhã. O seu compromisso diário com o trabalho ou estudo te obriga a levantar da cama antes da hora que você deseja, criando um conflito complexo entre seu sono e a sua "obrigação para com a sociedade (e o capitalismo)" ou não, você pode ser importunado pelo simples conflito entre ter que decidir o que é melhor: sentir o gosto do requeijão ou de um ovo frito? Ou os dois?

Essa redução a escolhas como soluções para conflitos me soa um tanto limitada e acabam criando uma noção de "pseudo-liberdade". Hoje esse texto vai abordar estritamente a face negativa desse falso poder de escolha e vai partir diretamente para o ponto a que muitos já chegaram: "Não quero mais obrigações, escolhas e conflitos. Quero apenas descansar e vadiar".Sinceramente essa opção nunca me pareceu uma má idéia, inclusive soa bem até hoje para os meus ouvidos. No entanto a minha indagação atual é a que ponto chegaríamos se isso fosse possível? Se pudéssemos realmente fazer "nada" estaríamos tão satisfeitos? Pessoalmente acredito que nunca ficaríamos sem fazer nada, pois o próprio ato de não fazer já é de fazer. Se ficássemos sem conflitos em nossas vidas, não haveria ação e reação e conseqüentemente sem os dois não haveria distinção. Tudo seria uma única unidade, tudo seria fato neutro. Percebe-se que para poder sentir o azedo é necessário conhecer o doce e portanto "O que seriam os momentos felizes sem os tristes (e vice-versa)" como alguém provavelmente já falou para você. De fato é uma frase simples e muitas vezes repetida, mas que se pensada pode estruturar a noção de inúmeras questões presentes hoje em dia. Você nunca desejaria fazer nada senão tivesse o que fazer e provavelmente se estivesse sem fazer nada não saberia determinar se aquilo é bom ou ruim.

Concluo, por hora, que não há solução para nos desvencilhar da ação e da reação. Eles estão sempre presentes e se algum dia o conseguiremos (essa indagação fica para outro momento) também não sabemos. Procuro fazer uso do que já é existente, afinal se o conflito está sempre presente devo usá-lo para minha vantagem. Provavelmente dai se formou a premissa de qualquer história. Ao retratarem a vida e serem um espelho da sociedade, as estórias usam conflitos para se estruturarem e darem início à criação. O conflito propõe renovação e criação. Essa é minha proposta através da escrita: a adversidade de idéias em forma de simples pensamentos questionadores que mais tarde evoluirão em prosas elaboradas com personagens que vivenciarão confrontos na pele e na mente. O processo criativo (se assim posso chamá-lo) começa através dessas reflexões digitadas e termina nas mãos sangrentas de uma mulher que acaba de ser atropelada. Acredito ser uma forma de tornar útil a tortura do "duelo cotidiano" ao transformá-la em produto criativo, mas também acredito ser apenas umas das reações. A reação dentro do duelo, o conflito dentro do confronto, um clico vicioso, uma metalinguagem sem fim; o litígio nunca acaba e está sempre presente, o que você faria?


"Que esse espaço seja a arena de muitas idéias prontas para gerar novas."